sábado, 12 de março de 2011

Asa de Merda

Olho descontento. (descontente) Descurtido
Me nascem asas. Me botam.
Asas desmandadas.
Desmandaram, não sei quem, que sem asas não ficasse. Eu... (que até breve)
Voar por cima da merda.
Baterasas de um prum, proutro... num pulopouso
Brotaram, não, fluiram, não, rasgaram asas às minhas costas. às costas que minhas são.
Agora das asas sejam. Dessas asas; dasasas; da sasas sejam; Do Peso. Peso d'asas.

De que não sei voar,
precipício meu
de que não pulo
de que salto alto, pulo de assalto,
salto de um pulo do asfalto.
Pulo do peso d'asas, pulopouso de um prum, proutro,
vivo ou morto,
ou morto ou vivo;
ou vivomorto
ou mortovivo (repare bem a diferença)

De um proutro
por mesmo que meu pulo, salto-pouso, pulouco, pule de mim noutro.
Que o mesmo.
Nem pulo nem pelo pulo passo,
nem um passo,
pouso.
Batoasas até o mesmo lugar,
o mesmíssimo lugar,
mesma merda que já fui sobrevoar;
sobre mesmo;
sobre voar.

A mim me lembra muito
na merda pular,
e no pulo merdar,
sem um puto pingar,
nem nos outro cagar.

Pulo com vontade de chorar.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Perdeu todo o dinheiro na mão do Gusmão
Mas é que eu já to quase entendendo
Saiu pela tangente na Bulões
Cortou na face o dogue negro do sargento
Não sei se foge do policia ou do irmão
Mas corre crente que consegue
sem medo de que cegue
Se lascar com os outros noite a dentro
Quebrar os dentes, descontento
do primo pobre do meganha peçonhento
Barba, cabelo e bigodo
ouvindo no I-pod
Janis Joplin no momento

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Kombe queimada, carbonizada, enferrujada
Queria correr
Queria roncar, coitada
Estradas tomadas desfilando
Ascelerando, por quatro cantos se desata
Mas não podia
Era sucata

***

Deito sentado, estirpe sangrador
Acariciando o colo do meu mau feitor
Morto Quase
Esperança, caprixo frugal
Morta Quase
Rasga peito, o ideal
Morto ideal, ou quase
Espero a noite
Espero à noite
Nutro a espera, Talho madre noite
Quem será?
Quê será?
Quem será por mim quando a noite acabar?

***

Daqui a um minuto
vai faltar um quarto de hora
vai dançar, viúva senhora
vai comer ovo e farofa
se errar noite a fora

Daqui a um minuto
vai raiar o roxo da aurora
anunciar o dia do agora
Vão achar que é festa na Flora
Vai sobrar quindin e mariola

Daqui a um minuto
Moby Dick vai saltar um salto cisudo
Vai se gabar da louca manobra
Aderbal, Chico, tudo
Delirando poeira, lúdica história

Daqui a um minuto é quase agora

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Talha madeira
corre raso rio ditoso
Foz de leite, sol deleite
ar dengoso
Queria poder
querer deitar moer
farfalhar poços de azeite
faz languir divino gozo
para repouso
para em fim meus braços dar
fim que qual
tarda formoso

***

Luz sorridente
Luz cristalizada
forte porte prateada
doida demais
Leite condençado
essência de cheiro de pescoço de morena
Lua me condena
Olhar-te, aconchegar-me
Em tua alva cama
minha pena

***

Não são tão
Nem tanto são, não
Nao, nem tao são
mas são o que são
mesmo que não
e não são
assim tão
mas são

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

...o amor é um cu, as vezes.

Ednaldo, antes era redondo. Cozia sua própria indumentária. Não cabia em si de tanta serenidade, tanta certeza. Caminhou certa ocasião até a beira do desfiladeiro de vida longa para apreciar-lhe a vista. Vejam só. Três dias, cinco noites, quatro semanas, meio mês e um chucrute, só para apreciar-lhe a vista. Era daqueles exemplares que não se prendia a caixas de sapatos, nem fazia questão de contar seu milho todo mês. Trabalhava o necessário, colhia o merecido e apreciava o resto da existência como se nem fosso tão difícil. Nutria nesta época tantos inimigos, pois ninguém que era alguém e tinha bicicleta aturava tanta falta de responsabilidade e veludo com a vida. Era coisa de certos meses, os visinhos e os menos felizes lhe trazerem problemas, reclamações, desaforos e até sopa de ervilha, só para lhe tirar do prumo. Mas ele nada. Olhava tudo aquilo como quem vê um filme no meio da tarde e come moedas de cobre com mel. Sabia ser tão calmo e indiferente à falta de solução eminente que parecia não se importar, mas quando dava lhe oportunidade a vida, mostrava que tinha força e sabia lutar pelo justo. Tinha mesmo até calças azuis para isso. Mas mesmo assim o fazia como quem não se importa, já que tem um saco de pipocas.

“...caminhei por entre folhas e brasas, para o desfiladeiro de vida longa alcançar. Bonito aquilo lá...” - Ednaldo (filho da puta).

Dizem que foi até o desfiladeiro em busca de problemas. Pois é, na falta de conseguir se preocupar, teria se desgarrado até o outro lado da garota só para ver se arrumava o que fazer. Mas isso me parece mais invenção de velho brocha. Ele foi mesmo para ver a vista. Esse cara sabe apreciar o belo. Ele tem uma bicicleta e não anda. Sobe na mangueira e cata rosas azuladas. E nem se importa de saber que não poderia, pois mangas é o que se cata em mangueiras. Deu vontade, ele faz. Ignorando até os gritos de sai pra lá dos urubus que habitam no topo. Mais tarde passava lá e presenteava-lhes com uma carniça que deixava de almoçar. Um dia, e esse dia vai ser comemorado por muita gente, chegou lá pela púbis uma nau de pasta branca trazendo gente nova. Um povo doido cheio de ouro pendurado no corpo, lenços na cabeça e penduricalhos de pinduca. - Cabrito!!! Alguém gritou, mas ninguém deu ouvidos. - Como sempre faz, partiu Ednaldo cheio de milho nos joelhos para distribuir entre os novos, como sinal de “foda-se que vocês são novos, eu sou mais legal que vocês, mas toma esse milho aqui, meu filho, pra você não ficar triste.” Passeava entre os novos, dando de mão em mão o milho bem recebido e fazendo perguntas, trocando idéias, vidas, balas de chocolate. Um povo muito interessante este que chegara por área tão dubitável. Vestimenta bonita, costumes elegante e ponderados. Um chique costume de valorizar a troca e um perfume de coco inconfundível. Um passo seu parou. O outro não percebeu e continuou indo, mas logo percebeu que o companheiro tinha parado e voltou para prostrar a seu lado. Sua mão tremia. Via sair de dentro da nau de pasta branca uma linda donzela (donzela nada que eu conheço). A pele morena como a de uma índia, o cabelo levemente clareado e cheio de conchas naturais como do mar. Uns olhos verdes, banhados a ouro. Tão grandes e esticados para o lado que mais parecia um horizonte de mar caribenho. Uma pequena pedra, raríssima, de suave vermelho lhe pendurava da testa. E um sol, só dela, um pouco menor que o outro, mas que lhe seguia e proporcionava-lhe um foco de luz só seu (ela achava chato na hora de dormir). Ele perdeu tanto tempo e concentração decifrando seus olhos que nem percebeu que ela já lhe falava. Uma língua que não conhecia. Talvez fosse de sua cabeça, mas tinha conseguido se comunicar com todos os outros, mas tudo que ela dizia soava-lhe como água ao chocar-se com a rocha e o limo. Sem muito o que dizer, ofereceu-lhe o tão diplomático milho. Ela em troca ofereceu-lhe uns segundos de silêncio. Uma eternidade pareceu-lhe! Nesse instante, repare, nesse mesmo instante em que ele aperta o próprio ouvido e saltita levemente no lugar diante daquela moça, Ednaldo está preocupado. Pela primeira vez! Três anos depois, ela aceita seu humilde porém arrogante presente e ao recebe-lo, toca lhe a pele. Pronto.

“...o impossível é um limite sabia!! Poxa, deixa eu me possibilitar!” - Ednaldo (raciocínio de lontra)

Se isso não é amor, então macaco não come cebolas fatiadas ao redor de um pato bem assado com molho pardo e acompanhamento de batata flambada, servido de um vinho branco de no mínimo dez anos!! - Pensou ele assim que acordou... No outro dia é claro. E disse ao primeiro vizinho que lhe invadiu a casa, “Euforia é o caralho, eu to é muito doido!!” Frase essa que depois de vencer três concursos de literatura, rendeu-lhe um soco no estômago por parte do vizinho invasor. Mas não se importava, agora ele amava a uma mulher, não precisava mais das almofadas. Além de toda essa vida, toda essa beleza, a maior de todas as belezas lhe quer, e ele que não é bobo, toma pra si essa beleza, esse tal amor. E por isso foi apreciar novamente a beleza em sua origem, seu nascedouro. Atravessou novamente três dias, cinco noites, quatro semanas, meio mês e um chucrute para uma outra vez olhar ao vasto desfiladeiro de vida longa, que desta vez foi tantas vezes mais belo, melhor iluminado, mais umedecido. Parecia que alguém lhe tivesse esfregado as partes até um pouco antes de Ednaldo chegar. Que beleza. Olhar o mundo do ponto de vista de quem ama. Foi esse o pensamento que lhe acordou a tomar em retirada de volta ao acampamento dos novos. Tantas coisas a dizer, tantos carinhos pra fazer, toda uma língua a aprender, o tempo todo do mundo era tão pouco tempo para aproveitar devidamente um amor. Ednaldo não tinha mais sossego. A serenidade de antes não lhe beijava mais a face lustrosa.

“...amar é um sacrifício que a gente faz por alguém que se sacrifica pela gente. Pra quê né?” Ednaldo (pratico e tudo)

O primeiro pé pisou defronte à vila, o outro demorou uma semana a mais pois se perdeu perto dos cágados (adoro essa palavra), e com o que se defrontou este? Com a imensa incógnita do vazio deixado por um ex-acampamento. Restos de restos de felicidade decaídos pelo chão deixando um rastro indecifrável porém visível e por isso, mais doloroso ainda. O vento assobia melodias de musica sertaneja ao seu ouvido. (seu guarda eu não sou vagabundo, eu não sou delinqüente...) Em passos lentos e largos, ele anda sem direção a propósito nenhum. (sou um cara carente, eu dormi na praça... Pensando nela...) Os passos lentos se transformam em passos curtos, a velocidade aumenta, junto com o medo e o desnorteio. A direção se perde cada vez mais e o caminho vira caminho sem caminhada. Destino é o que não falta, mas Ednaldo corre em círculos. A tal menina, talvez nem tivesse percebido o grande amor que viveu. Ednaldo sua. Nunca, nem um caminho de volta ela encontraria, nem se quisesse. Ednaldo tropeça, mas não para de correr. E agora, que trabalhar, colher, zombar, tudo perdeu propósito? Certo dia Ednaldo parou de correr. Voltou para casa, sentou na sua bicicleta e tomou um suco de tomate. Muitos anos passam e ele continua ali, quadrado, levemente inclinado para a esquerda, sendo educado e prestativo com todos da cidade. Todos o adoram e tratam bem esse Ednaldo que não incomoda mais. Come, bebe, trabalha e arruma confusão que nem qualquer outro. E no fim da tarde, fica olhando pro fim do mundo. Nunca mais, que foi até o desfiladeiro de vida longa que não para fins lucrativos.

No fundo dos seus olhos, Ednaldo continua correndo em direção nenhuma.

“queria eu nunca ter amado...” Ednaldo (lúcido que só um cu)

Definitivamente, o amor é um cu.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Ao rio

Rio de Janeiro
Puta cidade
Não vou falar
Cá me encontro eu
De queixos pendengos, olhar mareado
e embriagado de te fitar
E me assola um pôr-do-sol
rubro, sangrento, indolor

Não vou falar
Não vou falar
que és inebriante
Não vou falar
que és dia noite a dentro
Não vou falar nem cortar os pulsos
A prantear meus amores por ti

Não vou, não quero
É o que todos dizem
da beleza estonteante
atmosfera cativante
Vou parecer repetição sem mistério
Não quero

Mas pudera
Tão lindamente lúgubre
Boêmia, indecorosa esplanada
Fosse feia
Ninguém falava nada

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Cinismo Público

Eu fico aqui sentado olhando o sol
Fico sentado pensando se num é farol
Aconchegado filosofando sobre o tudo
O cinismo duns bicudo
A bobeira duns menino
Que vê coisa e fica mudo

A terra ta pra se acabar
Tem gente sonsa querendo morar na lua
Vamos pra rua, vamos pra rua
Vai sobrar ou não
O asteca disse que o céu vai virar mar do sertão

Tem que ter trabalho?
Passarinho só sabe voar
Nego passa da fome
A fome canta como sabiá

O sol há de brilhar mais uma vez
Panos brancos na mente
Na base do talvez

A terra ta pra se acabar
Tanta macumba, é tanto povo na rua
Vamos pra rua, vamos pra rua
Quanta ilusão
O asteca disse que o céu vai virar mar do sertão

Tem nego no poder
O pacificador maluco
O sangue do menino não dá luto
Sal do mar Yemanjá não vai beber

E é o que é pra fazer?
Cuidar dos filhos, melhor não entender
Eu to ca fula
To fulo pra gritar com o povo
Eu to esperando o cara vir de novo
Vamos pra rua, vamos pra rua
Esperar sentado não
O asteca disse que o céu vai virar mar do sertão