Talha madeira
corre raso rio ditoso
Foz de leite, sol deleite
ar dengoso
Queria poder
querer deitar moer
farfalhar poços de azeite
faz languir divino gozo
para repouso
para em fim meus braços dar
fim que qual
tarda formoso
***
Luz sorridente
Luz cristalizada
forte porte prateada
doida demais
Leite condençado
essência de cheiro de pescoço de morena
Lua me condena
Olhar-te, aconchegar-me
Em tua alva cama
minha pena
***
Não são tão
Nem tanto são, não
Nao, nem tao são
mas são o que são
mesmo que não
e não são
assim tão
mas são
sexta-feira, 29 de janeiro de 2010
segunda-feira, 18 de janeiro de 2010
...o amor é um cu, as vezes.
Ednaldo, antes era redondo. Cozia sua própria indumentária. Não cabia em si de tanta serenidade, tanta certeza. Caminhou certa ocasião até a beira do desfiladeiro de vida longa para apreciar-lhe a vista. Vejam só. Três dias, cinco noites, quatro semanas, meio mês e um chucrute, só para apreciar-lhe a vista. Era daqueles exemplares que não se prendia a caixas de sapatos, nem fazia questão de contar seu milho todo mês. Trabalhava o necessário, colhia o merecido e apreciava o resto da existência como se nem fosso tão difícil. Nutria nesta época tantos inimigos, pois ninguém que era alguém e tinha bicicleta aturava tanta falta de responsabilidade e veludo com a vida. Era coisa de certos meses, os visinhos e os menos felizes lhe trazerem problemas, reclamações, desaforos e até sopa de ervilha, só para lhe tirar do prumo. Mas ele nada. Olhava tudo aquilo como quem vê um filme no meio da tarde e come moedas de cobre com mel. Sabia ser tão calmo e indiferente à falta de solução eminente que parecia não se importar, mas quando dava lhe oportunidade a vida, mostrava que tinha força e sabia lutar pelo justo. Tinha mesmo até calças azuis para isso. Mas mesmo assim o fazia como quem não se importa, já que tem um saco de pipocas.
“...caminhei por entre folhas e brasas, para o desfiladeiro de vida longa alcançar. Bonito aquilo lá...” - Ednaldo (filho da puta).
Dizem que foi até o desfiladeiro em busca de problemas. Pois é, na falta de conseguir se preocupar, teria se desgarrado até o outro lado da garota só para ver se arrumava o que fazer. Mas isso me parece mais invenção de velho brocha. Ele foi mesmo para ver a vista. Esse cara sabe apreciar o belo. Ele tem uma bicicleta e não anda. Sobe na mangueira e cata rosas azuladas. E nem se importa de saber que não poderia, pois mangas é o que se cata em mangueiras. Deu vontade, ele faz. Ignorando até os gritos de sai pra lá dos urubus que habitam no topo. Mais tarde passava lá e presenteava-lhes com uma carniça que deixava de almoçar. Um dia, e esse dia vai ser comemorado por muita gente, chegou lá pela púbis uma nau de pasta branca trazendo gente nova. Um povo doido cheio de ouro pendurado no corpo, lenços na cabeça e penduricalhos de pinduca. - Cabrito!!! Alguém gritou, mas ninguém deu ouvidos. - Como sempre faz, partiu Ednaldo cheio de milho nos joelhos para distribuir entre os novos, como sinal de “foda-se que vocês são novos, eu sou mais legal que vocês, mas toma esse milho aqui, meu filho, pra você não ficar triste.” Passeava entre os novos, dando de mão em mão o milho bem recebido e fazendo perguntas, trocando idéias, vidas, balas de chocolate. Um povo muito interessante este que chegara por área tão dubitável. Vestimenta bonita, costumes elegante e ponderados. Um chique costume de valorizar a troca e um perfume de coco inconfundível. Um passo seu parou. O outro não percebeu e continuou indo, mas logo percebeu que o companheiro tinha parado e voltou para prostrar a seu lado. Sua mão tremia. Via sair de dentro da nau de pasta branca uma linda donzela (donzela nada que eu conheço). A pele morena como a de uma índia, o cabelo levemente clareado e cheio de conchas naturais como do mar. Uns olhos verdes, banhados a ouro. Tão grandes e esticados para o lado que mais parecia um horizonte de mar caribenho. Uma pequena pedra, raríssima, de suave vermelho lhe pendurava da testa. E um sol, só dela, um pouco menor que o outro, mas que lhe seguia e proporcionava-lhe um foco de luz só seu (ela achava chato na hora de dormir). Ele perdeu tanto tempo e concentração decifrando seus olhos que nem percebeu que ela já lhe falava. Uma língua que não conhecia. Talvez fosse de sua cabeça, mas tinha conseguido se comunicar com todos os outros, mas tudo que ela dizia soava-lhe como água ao chocar-se com a rocha e o limo. Sem muito o que dizer, ofereceu-lhe o tão diplomático milho. Ela em troca ofereceu-lhe uns segundos de silêncio. Uma eternidade pareceu-lhe! Nesse instante, repare, nesse mesmo instante em que ele aperta o próprio ouvido e saltita levemente no lugar diante daquela moça, Ednaldo está preocupado. Pela primeira vez! Três anos depois, ela aceita seu humilde porém arrogante presente e ao recebe-lo, toca lhe a pele. Pronto.
“...o impossível é um limite sabia!! Poxa, deixa eu me possibilitar!” - Ednaldo (raciocínio de lontra)
Se isso não é amor, então macaco não come cebolas fatiadas ao redor de um pato bem assado com molho pardo e acompanhamento de batata flambada, servido de um vinho branco de no mínimo dez anos!! - Pensou ele assim que acordou... No outro dia é claro. E disse ao primeiro vizinho que lhe invadiu a casa, “Euforia é o caralho, eu to é muito doido!!” Frase essa que depois de vencer três concursos de literatura, rendeu-lhe um soco no estômago por parte do vizinho invasor. Mas não se importava, agora ele amava a uma mulher, não precisava mais das almofadas. Além de toda essa vida, toda essa beleza, a maior de todas as belezas lhe quer, e ele que não é bobo, toma pra si essa beleza, esse tal amor. E por isso foi apreciar novamente a beleza em sua origem, seu nascedouro. Atravessou novamente três dias, cinco noites, quatro semanas, meio mês e um chucrute para uma outra vez olhar ao vasto desfiladeiro de vida longa, que desta vez foi tantas vezes mais belo, melhor iluminado, mais umedecido. Parecia que alguém lhe tivesse esfregado as partes até um pouco antes de Ednaldo chegar. Que beleza. Olhar o mundo do ponto de vista de quem ama. Foi esse o pensamento que lhe acordou a tomar em retirada de volta ao acampamento dos novos. Tantas coisas a dizer, tantos carinhos pra fazer, toda uma língua a aprender, o tempo todo do mundo era tão pouco tempo para aproveitar devidamente um amor. Ednaldo não tinha mais sossego. A serenidade de antes não lhe beijava mais a face lustrosa.
“...amar é um sacrifício que a gente faz por alguém que se sacrifica pela gente. Pra quê né?” Ednaldo (pratico e tudo)
O primeiro pé pisou defronte à vila, o outro demorou uma semana a mais pois se perdeu perto dos cágados (adoro essa palavra), e com o que se defrontou este? Com a imensa incógnita do vazio deixado por um ex-acampamento. Restos de restos de felicidade decaídos pelo chão deixando um rastro indecifrável porém visível e por isso, mais doloroso ainda. O vento assobia melodias de musica sertaneja ao seu ouvido. (seu guarda eu não sou vagabundo, eu não sou delinqüente...) Em passos lentos e largos, ele anda sem direção a propósito nenhum. (sou um cara carente, eu dormi na praça... Pensando nela...) Os passos lentos se transformam em passos curtos, a velocidade aumenta, junto com o medo e o desnorteio. A direção se perde cada vez mais e o caminho vira caminho sem caminhada. Destino é o que não falta, mas Ednaldo corre em círculos. A tal menina, talvez nem tivesse percebido o grande amor que viveu. Ednaldo sua. Nunca, nem um caminho de volta ela encontraria, nem se quisesse. Ednaldo tropeça, mas não para de correr. E agora, que trabalhar, colher, zombar, tudo perdeu propósito? Certo dia Ednaldo parou de correr. Voltou para casa, sentou na sua bicicleta e tomou um suco de tomate. Muitos anos passam e ele continua ali, quadrado, levemente inclinado para a esquerda, sendo educado e prestativo com todos da cidade. Todos o adoram e tratam bem esse Ednaldo que não incomoda mais. Come, bebe, trabalha e arruma confusão que nem qualquer outro. E no fim da tarde, fica olhando pro fim do mundo. Nunca mais, que foi até o desfiladeiro de vida longa que não para fins lucrativos.
No fundo dos seus olhos, Ednaldo continua correndo em direção nenhuma.
“queria eu nunca ter amado...” Ednaldo (lúcido que só um cu)
Definitivamente, o amor é um cu.
“...caminhei por entre folhas e brasas, para o desfiladeiro de vida longa alcançar. Bonito aquilo lá...” - Ednaldo (filho da puta).
Dizem que foi até o desfiladeiro em busca de problemas. Pois é, na falta de conseguir se preocupar, teria se desgarrado até o outro lado da garota só para ver se arrumava o que fazer. Mas isso me parece mais invenção de velho brocha. Ele foi mesmo para ver a vista. Esse cara sabe apreciar o belo. Ele tem uma bicicleta e não anda. Sobe na mangueira e cata rosas azuladas. E nem se importa de saber que não poderia, pois mangas é o que se cata em mangueiras. Deu vontade, ele faz. Ignorando até os gritos de sai pra lá dos urubus que habitam no topo. Mais tarde passava lá e presenteava-lhes com uma carniça que deixava de almoçar. Um dia, e esse dia vai ser comemorado por muita gente, chegou lá pela púbis uma nau de pasta branca trazendo gente nova. Um povo doido cheio de ouro pendurado no corpo, lenços na cabeça e penduricalhos de pinduca. - Cabrito!!! Alguém gritou, mas ninguém deu ouvidos. - Como sempre faz, partiu Ednaldo cheio de milho nos joelhos para distribuir entre os novos, como sinal de “foda-se que vocês são novos, eu sou mais legal que vocês, mas toma esse milho aqui, meu filho, pra você não ficar triste.” Passeava entre os novos, dando de mão em mão o milho bem recebido e fazendo perguntas, trocando idéias, vidas, balas de chocolate. Um povo muito interessante este que chegara por área tão dubitável. Vestimenta bonita, costumes elegante e ponderados. Um chique costume de valorizar a troca e um perfume de coco inconfundível. Um passo seu parou. O outro não percebeu e continuou indo, mas logo percebeu que o companheiro tinha parado e voltou para prostrar a seu lado. Sua mão tremia. Via sair de dentro da nau de pasta branca uma linda donzela (donzela nada que eu conheço). A pele morena como a de uma índia, o cabelo levemente clareado e cheio de conchas naturais como do mar. Uns olhos verdes, banhados a ouro. Tão grandes e esticados para o lado que mais parecia um horizonte de mar caribenho. Uma pequena pedra, raríssima, de suave vermelho lhe pendurava da testa. E um sol, só dela, um pouco menor que o outro, mas que lhe seguia e proporcionava-lhe um foco de luz só seu (ela achava chato na hora de dormir). Ele perdeu tanto tempo e concentração decifrando seus olhos que nem percebeu que ela já lhe falava. Uma língua que não conhecia. Talvez fosse de sua cabeça, mas tinha conseguido se comunicar com todos os outros, mas tudo que ela dizia soava-lhe como água ao chocar-se com a rocha e o limo. Sem muito o que dizer, ofereceu-lhe o tão diplomático milho. Ela em troca ofereceu-lhe uns segundos de silêncio. Uma eternidade pareceu-lhe! Nesse instante, repare, nesse mesmo instante em que ele aperta o próprio ouvido e saltita levemente no lugar diante daquela moça, Ednaldo está preocupado. Pela primeira vez! Três anos depois, ela aceita seu humilde porém arrogante presente e ao recebe-lo, toca lhe a pele. Pronto.
“...o impossível é um limite sabia!! Poxa, deixa eu me possibilitar!” - Ednaldo (raciocínio de lontra)
Se isso não é amor, então macaco não come cebolas fatiadas ao redor de um pato bem assado com molho pardo e acompanhamento de batata flambada, servido de um vinho branco de no mínimo dez anos!! - Pensou ele assim que acordou... No outro dia é claro. E disse ao primeiro vizinho que lhe invadiu a casa, “Euforia é o caralho, eu to é muito doido!!” Frase essa que depois de vencer três concursos de literatura, rendeu-lhe um soco no estômago por parte do vizinho invasor. Mas não se importava, agora ele amava a uma mulher, não precisava mais das almofadas. Além de toda essa vida, toda essa beleza, a maior de todas as belezas lhe quer, e ele que não é bobo, toma pra si essa beleza, esse tal amor. E por isso foi apreciar novamente a beleza em sua origem, seu nascedouro. Atravessou novamente três dias, cinco noites, quatro semanas, meio mês e um chucrute para uma outra vez olhar ao vasto desfiladeiro de vida longa, que desta vez foi tantas vezes mais belo, melhor iluminado, mais umedecido. Parecia que alguém lhe tivesse esfregado as partes até um pouco antes de Ednaldo chegar. Que beleza. Olhar o mundo do ponto de vista de quem ama. Foi esse o pensamento que lhe acordou a tomar em retirada de volta ao acampamento dos novos. Tantas coisas a dizer, tantos carinhos pra fazer, toda uma língua a aprender, o tempo todo do mundo era tão pouco tempo para aproveitar devidamente um amor. Ednaldo não tinha mais sossego. A serenidade de antes não lhe beijava mais a face lustrosa.
“...amar é um sacrifício que a gente faz por alguém que se sacrifica pela gente. Pra quê né?” Ednaldo (pratico e tudo)
O primeiro pé pisou defronte à vila, o outro demorou uma semana a mais pois se perdeu perto dos cágados (adoro essa palavra), e com o que se defrontou este? Com a imensa incógnita do vazio deixado por um ex-acampamento. Restos de restos de felicidade decaídos pelo chão deixando um rastro indecifrável porém visível e por isso, mais doloroso ainda. O vento assobia melodias de musica sertaneja ao seu ouvido. (seu guarda eu não sou vagabundo, eu não sou delinqüente...) Em passos lentos e largos, ele anda sem direção a propósito nenhum. (sou um cara carente, eu dormi na praça... Pensando nela...) Os passos lentos se transformam em passos curtos, a velocidade aumenta, junto com o medo e o desnorteio. A direção se perde cada vez mais e o caminho vira caminho sem caminhada. Destino é o que não falta, mas Ednaldo corre em círculos. A tal menina, talvez nem tivesse percebido o grande amor que viveu. Ednaldo sua. Nunca, nem um caminho de volta ela encontraria, nem se quisesse. Ednaldo tropeça, mas não para de correr. E agora, que trabalhar, colher, zombar, tudo perdeu propósito? Certo dia Ednaldo parou de correr. Voltou para casa, sentou na sua bicicleta e tomou um suco de tomate. Muitos anos passam e ele continua ali, quadrado, levemente inclinado para a esquerda, sendo educado e prestativo com todos da cidade. Todos o adoram e tratam bem esse Ednaldo que não incomoda mais. Come, bebe, trabalha e arruma confusão que nem qualquer outro. E no fim da tarde, fica olhando pro fim do mundo. Nunca mais, que foi até o desfiladeiro de vida longa que não para fins lucrativos.
No fundo dos seus olhos, Ednaldo continua correndo em direção nenhuma.
“queria eu nunca ter amado...” Ednaldo (lúcido que só um cu)
Definitivamente, o amor é um cu.
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